terça-feira, 28 de julho de 2009

Reengenharia do Tempo




Acontece

Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.

Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.

Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.

Que entrevista espaçosa e especial!

(Últimos Poemas)

Pablo Neruda

terça-feira, 14 de julho de 2009


Caminho por lugares que desconheço...
O tempo não me cobra destino algum...
Porque lá onde estou...
esse mesmo tempo, que para nós sufoca o dia, não existe...
Esqueço então das cobranças massacrantes...
Dos erros que feriram minhas costas e exausto já não suportava carregá-los...
Refugio-me...
Apenas encontro-me com o silêncio que tanto desejei...

Se existem pessoas nesse mesmo mundo que por pensamentos concretizei?
Devo-lhes a resposta...
Tive desejos...
E como quem acredita, fiz pedidos...
Desejei que tudo desaparecesse...
Então ao meu redor...
O vazio tornou-se real...
Estava eu numa infinidade branca sem mais ruídos, paisagens ou qualquer coisa que nos remete à realidade...

Tomei-me pelo medo...
Mas assemelhando-se à imaginação dos loucos...
Vinte anjos sussurraram em meus ouvidos...
Junto deles a inocência linda de um sorriso contagiante...

A reconheci através dos sonhos revirados em minhas recordações...

Beatriz...

E por pensamentos trocamos proteção...
Sentimos a potencialidade do amor...
Batemos de frente com a felicidade que invadia a imensidão vazia...
Criamos nossos mundos...
Gargalhamos incansavelmente até sentir a barriga doer...

E juntos relembramos a minha amada...

apenas relembramos...


Fernando Resende

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Quisera eu...


Quisera eu ter a facilidade de não saber discutir pessoas...
Quisera eu viver demais e pensar de menos...
Quisera eu discutir maiores idéias...
Quisera eu, não mais fazer convites sinceros e por vontades loucas, aparecer repentinamente na frente de amores...
Quisera eu declarar poemas, superar sentimentos, entregar-me em novidades...
Quisera eu não mais manter limites que me prendam em eternas inseguranças...
Quisera eu tentar demais e fracassar de menos...
Quisera eu dividir maiores lembranças e viver sem pudores...
Quisera eu quebrar princípios e cantar maiores liberdades...
Quisera eu ter retribuído maiores carinhos, ter respondido com igualdade aos atos liderados por paixões...
Quisera eu escolher caminhos e facilitar a chegada de novas eras...
Quisera eu seguir eternamente apaixonado e jamais sentir-me incapaz dos desejos de reconquista...
Quisera eu acabar-me em palavras...
expor desejos, excluindo de mim qualquer tentativa de terminar em silêncio...
Quisera eu surpreender-me com atitudes rápidas caracterizadas por vontades únicas de beijos, abraços, carinhos, tesão...
e simplesmente entregar-me...
Abandonar o corpo e os pensamentos...
Abandonar a palavra não...
Quisera eu acreditar no que a novidade pensa ao meu respeito...
Quisera eu manter união eterna com as mudanças e aprendizados...
Quisera eu ter sido mais necessário...
Quisera eu ser menos confiável...
Quisera eu superar limites impostos...
Quisera eu ter a necessidade de abandonar-me no mundo e fazer companhia excessiva ao silêncio e à noite...
Quisera eu evitar amores, as vezes, por senti-los desnecessários e então não retribuí-los...
Quisera eu ter um amor a cada dia, uma boca a cada momento, um corpo a cada desejo e depois de tudo isso jogá-los fora...
Quisera eu provocar sentimentos...
sentir-me em falta...
e depois de tudo...
querê-los de volta...
Quisera eu evitar a inconstância...
Quisera eu dizer-te todos os dias, em seus ouvidos, palavras completas...
que só voce saiba...
Quisera eu ser a sua vontade, o seu homem, o seu desejo e tudo o que lhe for necessário...
Quisera eu querer e não querer-te...
Quisera eu acreditar no sempre e jamais perder pessoas...
Quisera eu chorar as lágrimas que não tenho tido tempo de chorar...
Quisera eu perder o fôlego com sorrisos sinceros e dizer não ao sorrisos falsos, forçados, amarelos...
Sem graça...
Quisera eu ter companhia nessa noite fria, onde o vento gelado insiste em rasgar minhas mãos trêmulas...
Quisera eu ter, só por esta noite, o calor do amor, a sinceridade de um olhar e a reciprocidade dos pensamentos longínquos...
Quisera eu dividir respostas para o que insisto buscar calado...
dividir os copos...
sujar as mesas...
derrubar cadeiras...
Rir desnecessariamente por estar satisfeito em compartilhar verdades...
Quisera eu...
calar-me...
eternamente...
Deixando apenas palavras e acreditando na receptividade que as mesmas insistem em produzir....


Fernando Resende