domingo, 22 de maio de 2011

Abandono


Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:

quando cheias de areia de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar de flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)

Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas.)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!

(O abandono me protege.)

Manoel de Barros

Um comentário:

  1. Poetas, homens da arte em geral.
    Foram e sempre serão como uma ponte
    Entre o imaginário antigo e o real presente.
    Como bons feiticeiros trazem
    Ás almas insatisfeitas como que uma porção mágica
    Que causa um breve delírio voluptuoso
    Um extasiar fugaz, que alivia os ais,
    Dos inconformados com a realidade contemporânea.
    Todavia seu ungüento não dura mais que alguns instantes
    Seu efeito curador se converte em um maior pesar
    Maior que a dor atroz do passado.
    Portanto, dou um conselho aos amantes das belas artes.
    Não dêem ouvidos aos artistas do presente
    Sejam vocês mesmos uma ponte e o viajante
    Para ir ao mundo da pura arte...
    Vão ao encontro do elixir da eterna melancolia
    Na fonte, na sua origem, onde jorra com perfeição,
    Tanto o bem, quanto o mal dos seus sublimes criadores.

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Rasuras